Aeroporto Internacional Tancredo Neves - 25 anos de história - Parte III



O Aeroporto Intenacional Tancredo Neves faz aniversário hoje, e para fechar o 25º ano trazemos as duas últimas partes da matéria especial sobre a história do aeroporto.


27.03.2010 - CNF ao vivo. Colaboração especial José Cursio e Marco Antônio Baldo.


Desde 28 de março de 1984, Belo Horizonte já contava com um aeroporto internacional oficialmente inaugurado. A cidade passou a ter todas as condições de oferecer voos mais longos e principalmente para o exterior com uma estrutura de primeiro mundo. Naquela altura somente o Galeão, no Rio de Janeiro, e o Eduardo Gomes, em Manaus, contavam com estrutura semelhante. No ano seguinte Guarulhos se juntou ao time dos novos terminais brasileiros construídos em cima de uma nova realidade. Reinaram sozinhos até meados da década de 90 quando a Infraero começou a construir novos terminais nas outras capitais do país.

Em 06 de julho de 1984, um Boeing 727-200 da VASP, prefixo PP-SNI, em voo fretado por uma empresa de turismo, realizou a primeira operação internacional de passageiros, com o embarque de um grupo de turista para Orlando. A aeronave fez escalas em Manaus e Aruba. Poucos dias depois, em 09 de julho de 1984, o DC-10-30 da VARIG, prefixo PP-VMA, realizou o primeiro vôo internacional sem escalas, ligando Belo Horizonte à Miami. No fim do ano, em 08 de novembro, pousou em Confins o primeiro voo trazendo estrangeiros. Foi um Boeing 727-200 da alemã Condor.


Boeing 727-200 da Condor e DC-10 da Varig.


Em 1990 foi inaugurada a primeira ligação internacional regular do aeroporto. O Lloyd Aéreo Boliviano iniciou suas operações ligando Belo Horizonte a Santa Cruz de la Sierra, voando Boeing 727 e Airbus A310, com escala em Guarulhos (LB942/943), aos domingos e terças-feiras. O LAB deixou de voar para Confins por volta de 1997 e retornou em 2004 fazendo um voo circular na rota Santa Cruz-Galeão-Confins-Santa Cruz (LB943), com Boeing 727-200 e 737-300. Essa volta durou pouco mais de 1 ano e devido às dificuldades que a empresa vinha atravessando, as bases de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro foram encerradas. Nas duas épocas os voos eram operados 2 vezes por semana.




Em 1993 foi a vez da uruguaia Pluna descobrir o aeroporto. Foram inaugurados voos sem escala entre Montevidéu e Belo Horizonte, operados 2 vezes por semana (PU581/582) às quintas-feiras e domingos. A companhia utilizou inicialmente o Boeing 737-200 e depois o Boeing 737-300. A Pluna voou para Confins até por volta de 1996.


Boeing 737-200 da Pluna e Boeing 737-300 da Varig.

Boeing 737-300 Transbrasil e Varig.

Notas da revista Flap Internacional.


Embora as ligações sul americanas tivessem sua importância, a capital mineira precisava de voos para os Estado Unidos. Essa necessidade foi atendida no final de 1994 com a chegada da American Airlines operando diariamente na rota Miami-Guarulhos-Confins (AA924/980), com Boeing 767-300ER. Durante quase 10 anos de serviços diários, a American atuou com várias combinações de voo. O aeroporto de Confins foi servido também pelos voos AA905/904 (Miami-Galeão-Confins), AA951/950 (Nova Iorque-Guarulhos-Confins) e AA963/962 (Dallas-Guarulhos-Confins). Nesse último a companhia utilizou o Boeing 777-200ER. Em novembro de 2004 a American deixou Belo Horizonte e só retornou em 2008.


Boeing 767-200ER (esq.) e B767-300ER da American Airlines.


Em 1995 foi a vez da United Airlines aterrisar em Belo Horizonte. Foi também a primeira a ligar Confins aos Estados Unidos em voos regulares sem escala. Os voos UA993/992 cumpriam diariamente o trecho Nova Iorque-Miami-Confins e retorno, operados pelo Boeing 767-200ER. Coincidentemente a numeração do voo Confins-Miami era a mesma que a American utiliza hoje. No final de 1997 a United deixou de operar em Belo Horizonte alegando não ter obtido o retorno esperado. Existem outras versões para o término desse voo, incluindo uma suposta ação da Varig junto as autoridades por conta de concorrência predatória, entre outros, mas a versão oficial é que tratou-se mesmo de uma decisão da United. Alguns anos depois a companhia encerrou a base Miami para voos internacionais e passou a servir o Brasil somente a partir de Chicago e Washington.


Boeing 767-200ER da United Airlines.


Na alta temporada os fretamentos quebravam a rotina e garantiam algumas visitas de aeronaves estrangeiras. Os pacotes para a Disney trouxeram a Confins voos de empresas como Tower Air, American Trans Air (ATA), World Airways, entre outros. Da Europa eram mais raros mas também aconteceram, como em 30 de setembro de 1997 com a visita de um Boeing 747-200 da Alitalia num fretamento para Roma. No mesmo ano esteve na capital mineira o imperador do Japão, visita que trouxe dois Boeing 747-400 para Confins. A Varig oferecia voos diretos entre Belo Horizonte e Nova Iorque, aos sábados, em parceria com a Soletur. A operação era feita com os MD-11. Nessa época o aeroporto já sofria com a pouca movimentação de passageiros. Com o aeroporto da Pampulha recebendo cada dia mais voos para São Paulo e Rio de Janeiro, ficava cada vez mais difícil a atração de novos regulares, sobretudo os internacionais, para o aeroporto de Confins.


MD-11 World Airways e visão do terraço no final da década de 90.

Boeing 747-200 Kalitta Air e Airbus A310 Heliopolis, a serviço da AeroCancun.

Boeing 757-200 da americana ATA e Boeing 747-200 da Alitalia.

Boeing 737-200 Varig e Vasp.

Fokker 100 TAM e Boeing 737-300 Transbrasil.

MD-11 da Varig partindo para NY e o Airbus A310 da Passaredo cumprindo fretamento.

Boeing 747-100 da Tower Air e Boeing 747-400 do governo japonês.

Airbus A330 da TAM e Boeing 737-500 Rio Sul. No final da década de 90 os fretamentos movimentavam o aeroporto na alta temporada.


Mesmo assim em 2000 o mercado mineiro teve uma boa surpresa com o anúncio da chegada da Continental Airlines. Com apenas 2 anos de operação no Brasil, a companhia iniciou em 07 de setembro daquele ano uma rota inédita ligando Newark a Confins, com escala no Galeão. Os voos eram operados 6 vezes por semana, inicialmente com DC-10-30 e depois com os novíssimos Boeing 767-400ER que a companhia havia acabado de receber. No começo de 2001 a Continental fez algumas modificações na malha Brasil e então o voo de Confins foi trocado, passando a fazer parte do CO93/92 na rota Houston-Guarulhos-Confins, operado pelos Boeing 767-200ER, também recebidos naquele ano. Em setembro de 2001, logo após os atentados em Nova Iorque, a companhia anunciou um corte imediato de 20% da sua capacidade no mundo inteiro. O voo Newark-Galeão foi encerrado, o voo Houston-Guarulhos passou a seguir até o Rio de Janeiro, e a base Belo Horizonte foi encerrada. Depois disso a Continental reforçou seu foco nos mercados paulista e carioca e não demonstrou mais interesse em outras praças.


Boeing 767-200ER (esq.) e Boeing 767-400ER.

Nota da revista Flap Internacional.


No ano de 2003 surgiu uma nova empresa cargueira, com sede em Belo Horizonte. A Brasmex iniciou suas operações com um DC-10F (PR-BME) cumprindo voos para o grupo Fiat entre Confins e Turim, na Itália. Infelizmente a companhia não durou muito tempo e acabou devolvendo sua única aeronave. No ano seguinte o aeroporto recebeu um Antonov 124 da Volga Dnepr, que trouxe um carregamento para um laboratório no norte de Minas.


DC-10F da Brasmex e Antonov 124 da Volga Dnepr.


De todas as empresas que chegaram entre 1990 e 2000, restava a American Airlines. A companhia nunca havia cogitado encerrar o serviço para Belo Horizonte, mas em 2004 surpreendeu o mercado mineiro com uma saída repentina. A justificativa foi o alto custo em manter uma continuação de voo com um equipamento como o Boeing 777-200ER. Mesmo com várias tentativas de acordo promovidas pelo governo de Minas, não foi possível reverter a decisão e em 01 de outubro de 2004 a American realizou a última partida de Belo Horizonte. Pouco depois, a Varig que operava dois voos entre Guarulhos e Confins com código internacional, também suspendeu os serviços, transformando-os em voos domésticos. O aeroporto de Confins estava a partir daquele momento sem voos internacionais.


O Boeing 777-200ER operou em Confins entre 2003 e 2004.

Ainda no final de 2004, Confins recebeu diversas aeronaves presidenciais que vieram a Belo Horizonte para a Cúpula do Mercosul. Entre elas o Airbus ACJ da Venezuela e um Boeing 747-200 da Aerolineas Argentinas, trazendo o então presidente Nestor Kirchner.


Abrindo um parêntese na situação do aeroporto, em 2004 e 2005 alguns fretamentos movimentaram o terminal. Não eram mais mineiros indo ao exterior, mas sim um grande grupo de brasileiros, de vários estados, que foram deportados dos Estados Unidos. Numa operação liderada pelo governo de Minas, foram feitos quatro voos entre janeiro de 2004 e agosto de 2005. A charteira portuguesa Air Luxor operou dois deles, com Airbus A330-300 em 28 de janeiro de 2004 e com L1011 Tristar em 01 de março do mesmo ano. Os outros dois voos aconteceram em 02 de agosto de 2005 e foram operados por Boeing 757-200 das companhias Santa Barbara (Venezuela) e Transmeridian (EUA).


L1011 Tristar (esq.) e Airbus A330-300 da Air Luxor.


A situação era cada pior para o aeroporto. A Pampulha estava operando a pleno vapor, muito acima de sua capacidade, sofrendo com diversos problemas, mas ainda sim recebendo novos voos. A única companhia que parecia confortável em Confins era a Vasp, que embora já operasse no aeroporto central, mantinha inalterados os seus voos no aeroporto internacional, com ligações para Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Ilhéus e Vitória. A TAM tentava junto ao então Departamento de Aviação Civil (DAC) transferir suas últimas ligações de Confins para Pampulha. Nesse momento chegou-se a conclusão de que algo precisava ser feito, pois do contrário Belo Horizonte iria assistir o fechamento de seu aeroporto internacional e regredir algumas décadas passando a contar somente com o acanhado terminal da Pampulha, que naquela altura já não recebia mais novos voos por limitação de espaço. A transferência de voos para Confins já vinha sendo considerada, mas sem grandes avanços.


Em 2004 a Vasp seguia operando alguns voos em Confins. A Varig ligava o aeroporto somente com Guarulhos.

À esq. MD-11 Varig cumprindo voo doméstico e a dir. Airbus A320 da LAN em fretamento para o Chile.


A Total Cargo cumpria os voos da Rede Postal Noturna e a BRA atuava com fretamentos.


A Infraero trabalhava num projeto de ampliação do aeroporto da Pampulha, que elevaria consideravelmente a capacidade do terminal e teria grande impacto numa região que já sofria com sérios problemas de trânsito. Além disso não resolveria outros problemas mais técnicos do aeroporto, como falta de equipamento para pouso por instrumentos, pista de taxi limitada que exigia back track (taxiamento pela pista), reduzindo a capacidade de movimentos/hora, os constantes alagamentos, etc. Naturalmente para a Infraero era uma excelente medida a transferência dos voos para Confins, já que a Pampulha continuaria em boa posição e os prejuízos do aeroporto internacional seriam convertidos em lucro rapidamente. Dessa forma a estatal não tomou partido na discussão e suspendeu o projeto de ampliação da Pampulha. Enquanto isso a sociedade debatia a questão nos âmbitos municipal e estadual. O governo de Minas tinha uma clara posição, defendendo a transferência imediata para Confins de todos os voos comerciais com destino a outros estados.

No começo a resistência foi grande. As principais entidades empresariais, com exceção da Fiemg, que seguia a posição do governo estadual, eram contra a mudança e alegavam que os prejuízos seriam enormes. Alguns eram até radicais e diziam que a mudança iria varrer Belo Horizonte do mapa dos negócios do país. Depois de uma discussão que durou quase 2 anos, finalmente chegou-se a uma proposta final. As companhias aéreas eram a favor da mudança e não fizeram oposição. Nessa altura os debates já estavam dando vantagem ao aeroporto de Confins, embora ainda com uma considerável resistência da sociedade. Em 17 de agosto de 2004 uma reunião entre o Departamento de Aviação Civil (DAC), governo de Minas, prefeitura de Belo Horizonte, companhias aéreas e Infraero selou a transferência, marcando para 01 de dezembro de 2004 o início da nova fase do aeroporto internacional.

O problema estava parcialmente resolvido e então era preciso trabalhar para que Confins, que havia ficado abandonado durante muitos anos, pudesse oferecer uma estrutura adequada aos passageiros. A principal reclamação era o acesso, já que a rodovia MG-010 era considerada perigosa, de pista simples e com um movimento de veículos médio, mas que certamente passaria a ser muito intenso. Eram necessárias algumas obras emergenciais tanto no terminal quanto na rodovia, e por esta razão a transferência foi adiada por 3 meses. Ficou definido também que alguns voos para Congonhas/SP, Galeão/RJ (nessa altura o Santos Dumont também já era restrito) e Brasília continuariam na Pampulha como uma forma de adaptação até que as melhorias fossem entregues.


Saguão do aeroporto nos primeiros dias de 2005 (esq.) e DC-10F da Gemini Cargo.

Boeing 737-200F Vaspex e Global Air cumprindo fretamento de um time mexicano.

Com poucos voos regulares, alguns fretes de passageiros e cargas quebravam a triste rotina do aeroporto.


A Infraero promoveu uma modernização geral no terminal de Confins. Foram reformados os banheiros, sistemas gerais, elevadores, etc. As velhas telas de CRT dos painéis informativos de voos deram lugar a vários LCD’s espalhados pelo saguão. Um novo serviço de ônibus executivo foi criado. O Conexão Aeroporto passou a oferecer transporte de hora em hora entre um terminal especialmente criado na Av. Álvares Cabaral, no centro de Belo Horizonte, e o Aeroporto Internacional Tancredo Neves/Confins. Tudo aquilo de mais imediato foi feito e o aeroporto estava em condições de receber o fluxo da Pampulha sem maiores problemas. No domingo, 13 de março de 2005, Confins passou a receber 120 voos diários, registrando um aumento imediato de 85% em seu movimento. Em 24 de maio de 2005, reforçando a proposta de desenvolvimento do vetor norte de Belo Horizonte, o governo de Minas lançou a Linha Verde. A obra foi uma completa reconstrução do acesso ao aeroporto de Confins, que envolveu não só a rodovia MG-010, mas todo o trajeto desde o centro da cidade. Com a Linha Verde o tempo no percurso até o aeroporto foi bastante reduzido e tornou o trajeto mais seguro e confortável.





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